<MOLD=2 pt><MF=27 mm><PF=15 mm><LF=164 mm><AF=259 mm><FIOH=2 pt><MF=27 mm><PF=40 mm><LF=164 mm>ATA DA VIGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 16.09.1997.

 


Aos dezesseis dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e noventa e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e vinte e três minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Adalberto Antônio Pernambuco Nogueira, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 49/97 (Processo nº 1152/97), de autoria do Vereador Gerson Almeida. Compuseram a MESA: o Vereador Reginaldo Pujol, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, neste ato na Presidência dos trabalhos; a Senhora Margarete Costa Moraes, Secretária Municipal de Cultura, representando o Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Dalci Carlos Matiello, representante do Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul; o Senhor Adalberto Antônio Pernambuco Nogueira, Homenageado; a Senhora Célia Maria Plácido Santos, esposa do Homenageado e 1ª Conselheira Adjuntora do Conselho Estadual da Umbanda e dos Cultos Afro-Brasileiros - CEUCAB; o Vereador Gerson Almeida, proponente da Sessão e, na ocasião, Secretário "ad hoc". Ainda, como extensão da Mesa, foram registradas as presenças do Senhor Carlos Goulart, representando o Reino de Oxalá; da Senhora Horacina de Oxalá, representando a Sociedade de Umbanda e Religião Africana de Xangô e Oxalá; do ex-Vereador Ervino Besson, representando o Deputado Ciro Simoni; da Senhora Leoni de Oliveira Pinto, Conselheira e Secretária do CEUCAB; do Senhor Jorge Verardi, Presidente da Federação das Religiões Afro-Brasileiras - AFROBRÁS; do Senhor Rubem Araújo, Presidente da União Santa- Mariense de Umbanda e Cultos Afros Cavaleiros de Cristãos; da Senhora Regina Gonçalves, da Associação dos Funcionários Aposentados do Banco do Brasil; da Mãe Iná, do Terreiro de Umbanda e Candomblé Rei da Justiça; da Professora Neiva Fernandes, do Museu Antropológico do Rio Grande do Sul; do Doutor Ari Pedro Oró, Antropólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; do Senhor Ademir Antônio Neves; do Senhor Clóvis Luis Romanini Baixas; do Pai Cleon, do Reino de Oxalá; do Senhor Palmeira da Fontoura; da ex-Vereadora Bernadete Vidal; dos Senhores Adalberto Antônio Pernambuco Nogueira Júnior, Ademir José da Silva, Aldemiro Jorge Toldo Nogueira, Elaine Edina Toldo Nogueira e Paloma Cecília Toldo Nogueira, filhos do Homenageado. Também, foram registradas as presenças de Fernanda, Gabriela e Michele, netas do Homenageado. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, assistirem à execução do Hino Nacional e, após, concedeu  a  palavra  aos  Vereadores  que  falariam  em  nome  da Casa. O Vereador Gerson Almeida, em  nome das Bancadas do PT, PMDB, PPS, PSB e PTB, discorreu sobre a vida do Senhor Adalberto Antônio Pernambuco Nogueira, declarando que o Título hoje entregue representa o reconhecimento  de Porto Alegre àqueles que colaboram de forma especial para a consolidação da  cidadania e o engrandecimento das relações humanas necessárias a uma melhor qualidade de vida. O Vereador Nereu D'Ávila, em nome da Bancada do PDT, destacando a justeza da presente Homenagem, declarou ser ela extensiva a toda uma geração de lutadores em prol da religião afro-umbandista e teceu considerações acerca do significado do Título hoje entregue para a luta contra o preconceito e pelo reconhecimento concreto da liberdade religiosa. O Vereador Pedro Américo Leal, em nome da Bancada do PPB, saudou o Senhor Adalberto Antônio Pernambuco Nogueira, contando história relativa a mosteiro tibetano onde era efetuada constantemente a mesma pergunta: "quem tu és?". A Vereadora Anamaria Negroni, em nome das Bancadas do PSDB e do PFL, discorreu acerca do trabalho realizado pelo Senhor Adalberto Antônio Pernambuco Nogueira, na busca da organização do Conselho Nacional Deliberativo da Umbanda e dos Cultos Afro-Brasileiros, salientando a divulgação por ele efetuada, através da imprensa e de atividades culturais, de aspectos relacionados  à formação religiosa brasileira. Na oportunidade, o Senhor Presidente registrou que os Vereadores João Dib, Elói Guimarães, João Motta e Juarez Pinheiro não se encontravam presentes face à convocação extraordinária ocorrida na Comissão de Constituição e Justiça da Casa. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, assistirem à entrega, pelo Vereador Gerson Almeida e pela Senhora Margarete Costa Moraes, do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Adalberto Antônio Pernambuco Nogueira, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. A seguir,  o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Riograndense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos, declarando encerrados os trabalhos às dezesseis horas e trinta e seis minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária  de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador  Reginaldo Pujol  e secretariados pelo Vereador Gerson Almeida, Secretário "ad hoc". Do que eu, Gerson Almeida, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): É com satisfação que dou por abertos os trabalhos da 21ª Sessão Solene da 1ª Sessão Legislativa Ordinária da 12ª Legislatura e que se destina a entregar o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Adalberto Antônio Pernambuco Nogueira, em face do que decidiu o Processo Nº 1152/97, de autoria do Ver. Gerson Almeida, que teve aprovação no âmbito da Casa.

 Para compor a Mesa desejo convidar, inicialmente, a ilustre representante do Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre, Sra. Margarete Moraes, Secretária Municipal de Cultura; o Sr. Adalberto Antônio Pernambuco Nogueira, homenageado e a  Sra. Célia Maria Plácido Santos, esposa do homenageado e 1ª Conselheira Adjuntora do Conselho Estadual da Umbanda e dos Cultos Afro-Brasileiros; Sr. Dalci Carlos Mattielo, representante do Exmo Sr. Vice-Governador do Estado.

 Convido a todos, iniciando oficialmente os trabalhos, para que ouçamos, em pé, a execução do Hino Nacional.

 

(É executado o Hino Nacional.)

 

Quero, pessoalmente, manifestar a minha alegria em poder, na condição de Vice-Presidente da Casa, dirigir os trabalhos desta Sessão Solene, onde vamos completar a homenagem que o Legislativo da Cidade, em esperada decisão, teve ensejo em tributar ao Pernambuco, como todos o carinhosamente o conhecemos e identificamos, nosso querido Cidadão de Porto Alegre, Adalberto Antônio Pernambuco Nogueira. Evidentemente, sabemos que é na atividade religiosa do Pernambuco que ele tem concentrado suas atividades e, daí, grande parte do mérito que justifica as homenagens que estamos tributando. Penso, Pernambuco, que a tua presença na Casa deve ter atraído bons fluídos para nós. Pessoalmente, sou gratificado pelas circunstâncias de que um impedimento momentâneo não me permitiu que estivesse presente na hora da votação, que fez com que não acrescentasse o meu voto à unanimidade da homenagem que estás recebendo. Então, os fatos me colocaram na Presidência da Casa neste momento, o que me gratifica duplamente, até porque posso consagrar o carinho e o respeito que tenho por sua pessoa.

De acordo com o rito estabelecido pelo nosso serviço de Relações Públicas, cabe que o primeiro orador seja o proponente da homenagem, que no caso é o destacado Vereador da Cidade, Líder do Partido dos Trabalhadores, Ver. Gerson Almeida, que também falará em nome do PMDB, PPS, PSB e do PTB.

 

O SR. GERSON ALMEIDA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os  componentes da Mesa.) Senhoras e Senhores, que nos honram com a sua presença, alguns vindos de cidades do interior do Estado, demonstrando o carinho que têm pelo nosso homenageado. Eu gostaria, também, de registrar a presença dos filhos do nosso Pernambuco, que são Adalberto Antonio Pernambuco Nogueira Júnior, Ademir José da Silva, Aldemiro Jorge Toldo Nogueira, Elaine Edina Toldo Nogueira e Paloma Cecília Toldo Nogueira, além das netas, a Fernanda, a Gabriela e a Michele, que também nos dão o prazer da sua presença.

 Como foi colocado pelo Presidente, Ver. Reginaldo Pujol, tenho a satisfação de falar também em nome da Bancada do PMDB,  liderada pelo Ver. Fernando Záchia; do PPS liderada pelo Ver. Lauro Hagemann e também do PSB  liderada pelo Ver. Carlos Garcia, e do PTB.

Esse título honorífico de Cidadão de Porto Alegre, que a Câmara de Vereadores votou por unanimidade dos presentes e que, para ser aprovado, precisa previamente da assinatura de todas as lideranças com assento nesta Casa e também  precisa contar com 22 votos, 2/3 do conjunto dos Vereadores, por si só já demonstra que as pessoas indicadas para receber esse título recebem o apoio não só de um segmento da sociedade, mas isso em função de um lastro construído por anos de ação pública na Cidade e denodo pessoal, com o apoio dos segmentos mais variados, caso contrário, não adquiriria os votos necessários para que esse título fosse conferido.

 Digo isso porque parece-me que, quando uma pessoa com relevantes serviços prestados à Cidade recebe este título, o homenageado ganha com a homenagem, mas, sobretudo, ganha a Cidade de Porto Alegre que tem a grandeza de reconhecer em cidadãos que vêm, ao longo do tempo, dedicando-se com afinco e  perspicácia muito grande a trabalhos que são profundamente engrandecedores da cidadania e das relações humanas necessárias para a construção da qualidade de vida nas cidades. Acho que a Câmara de Vereadores tem a obrigação de reconhecer esse valor, registrar e alçá-lo a mais alta galeria das personalidades junto com todos os homens e mulheres  públicos, necessários para se construir esse enlace de humanismo e de solidariedade que são a razão de ser da vida  coletiva  ou em grupo. Se não tivéssemos pessoas capazes de cimentar essas relações, estabelecer inclusive na diferença e adversidade, relações superiores construídas e que sejam capazes, a partir dessas dificuldades, da pluralidade social, política, cultural, religiosa e humana que estabelece a riqueza, o mistério e o fascínio da vida humana, se não tivéssemos pessoas capazes de realçar isso e fazer disso um enlace humano e solidário, nós certamente teríamos muita dificuldade de construir uma sociedade humana fraterna, justa, como todos nós queremos construir.

Colocarei, em poucas palavras, os trabalhos que o Pernambuco tem feito pela Cidade. Ele nasceu em 3 de maio de 1928, é funcionário do Banco do Brasil, aposentado; desde muito cedo mudou-se para o Rio Grande do Sul e adotou Porto Alegre como sua Cidade e aqui desenvolveu sua atuação profissional e religiosa. Com sua atuação, sempre voltada ao desenvolvimento e afirmação da religião dos cultos afro-brasileiros, tem redigido artigos, e editou um livro "Omolokô, Origem e Ritual",  foi publicado pela Secretaria de Comunicação Social. Estas publicações possibilitam a informação e a formação da população em relação aos cultos e às religiões afro-brasileiras.  O Sr. Pernambuco tem-se notabilizado por ser um divulgador e um formulador incansável dos cultos e religiões afro-brasileiras. Sempre participou como representante do Rio Grande do Sul nos Conselhos Nacionais de Umbanda e dos  cultos afro-brasileiros realizados em várias capitais do país.

Sua atuação abrange desde os trabalhos religiosos, sendo Babalorixá de Ijejá e Sacerdote de Umbanda do Centro Espírita de Umbanda, até a luta em prol da moralização das religiões, expondo também o lado cultura

Tem atuação destacada, em seu trabalho religioso,  o que tem contribuído, em muito, para a organização federal, estadual e municipal do Conselho Nacional Deliberativo da Umbanda-CONDU e dos cultos Afro-Brasileiros.

Por sua postura pessoal de compromisso  com a comunidade religiosa, denotando tenacidade, caráter e liderança com seu currículo de vida extremamente importante,  é que propusemos e foi aprovado pela Casa o título de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Adalberto Antônio Pernambuco Nogueira.  Com esta homenagem os Vereadores de Porto Alegre consagram, oficialmente, o carinho, o respeito e o reconhecimento que há muito o povo da Cidade já atribui ao nosso homenageado. 

Essa foi, inclusive, a exposição de motivos que fez com que a unanimidade dos Vereadores desta Casa aprovassem este título.

Quero dizer que tenho muito orgulho de ter tido esta iniciativa, pois conheci o Sr. Pernambuco não como líder religioso, mas como líder espiritual e cidadão disposto a colaborar com as coisas da Cidade, quando era Secretário do Meio Ambiente na Administração do Sr. Tarso Genro. E durante muito tempo houve uma situação conflituosa e clara na cidade  que é estabelecer as relações entre a liberdade de culto que  deve ser consagrada de uma forma inequívoca e sem nenhuma condição, porque a liberdade de culto é condição básica para a democracia e relações humanas e, por isso, deve ser preservada. Um governo democrático deve assegurar esse direito.

Tive, na pessoa do Sr. Pernambuco, naquele momento, um parceiro e companheiro que foi capaz - com criatividade, inteligência e disposição de trabalho - de estabelecer relações que foram sendo equacionadas. Muitos problemas ocorreram com reclamações dos vizinhos ou por preconceito, ou outras razões e fomos construindo uma norma, uma legislação através do convívio e da discussão, incorporando as casas de religião e os moradores. De lá para cá o meu respeito e reconhecimento pelo Sr. Pernambuco só cresceram, porque ele demonstrou que os grandes problemas - os insolúveis -  não são resolvidos quando não há boa vontade, é necessário  pessoas com capacidade para resolvê-los.

Gostaria de concluir este depoimento, dizendo que só fui engrandecido por conviver e privar da amizade e da experiência do Sr. Pernambuco. Sinto muito orgulho de ter tomado esta iniciativa, de estarem todos os senhores e senhoras aqui. Tenho certeza de que mais do que qualquer outro é a Cidade de Porto Alegre que está ganhando com esse título que conferimos ao Pernambuco. Agora, ele fica na obrigação de fazer o que fez sempre sem nenhuma obrigação: é obrigado a compor o Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre e trabalhar um pouco mais pela nossa Cidade. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Gostaria de registrar algumas presenças, e que as pessoas nominadas se considerassem como extensão da Mesa Diretora: Sr.  João Carlos Goulart, representante do Reino de Oxalá; Sra. Horacina de Oxalá, representando a Sociedade de Umbanda e Religião Africana  de Xangô e Oxalá; meu querido amigo e ex-Vereador da nossa Cidade, com destacada atuação, Ver. Ervino Besson, que representa, também, o Dep. Ciro Simoni, de quem é assessor; Sra. Leoni de Oliveira Pinto, Conselheira e Secretária  do CEUCAB,  Conselho Estadual de Umbanda e dos Cultos Africanos; Sr. Jorge Verardi, Presidente da AFROBRÁS - Federação das Religiões Afro-Brasileiras;  Sr. Rubem Araújo, Presidente da União Santa-Mariense de Umbanda e Cultos Afros Cavaleiros de Cristãos; Sra. Regina Gonçalves, da Associação dos Funcionários Aposentados do Banco do Brasil; da Mãe Iná, do Terreiro de Umbanda e Candomblé Rei da Justiça; da Profa. Neiva Fernandes, do Museu de Antropologia do Rio Grande  do Sul; do Dr.  Ari Pedro Oró, Antropólogo da Universidade  Federal do Rio Grande do Sul; Sr.  Ademir Antônio Neves, Sr. Clóvis Luis Romanini Baixas e, num destaque muito especial,  o Pai Cleon, do Reino de Oxalá, amigo pessoal e pessoa extremamente benquista nesta Casa onde com freqüência temos o privilégio da sua convivência. 

 Peço vênia para  introduzir  duas referências muito pessoais. A Casa  hoje acolhe tantas pessoas entre as quais  eu preciso, numa referência pessoal,  a que me permito, até quebrando o protocolo, citar  duas com as quais eu tenho, por razões diversas, um vínculo de amizade  muito profundo. A idade fez com que eu tivesse alguma  dificuldade  para  confirmar que o  meu particular amigo Palmeira da  Fontoura, colega de bancos escolares, nos desse o prazer da sua visita aqui nesta Casa, prestigiando a solenidade de homenagem ao nosso querido  Pernambuco. De outro lado, registro também a presença da  minha companheira  de luta, se não partidária,  pelo menos da causa pública,  querida amiga ex-Vereadora Bernadete Vidal e , finalmente,  a presença  do Adalberto Antônio Pernambuco Nogueira Júnior, filho do nosso homenageado,  do Ademir José da Silva,  do  Aldemiro Jorge Toldo Nogueira,  Elaine Edina Toldo Nogueira e da Paloma Cecília  Toldo Nogueira,  cujo o sobrenome deixa muito claro  a vinculação com  o homenageado, pois que são seus filhos, além dos netos  Fernanda, Grabriela e Michele.

 Passo a palavra ao Ver.  Nereu D'Ávila para que,  em nome do Partido Democrático Trabalhista  e de outras Bancadas, se manifeste nesta ocasião.

 

O SR. NEREU D’ÁVILA:  Exmo. Sr. Presidente, em exercício, ilustre Ver. Reginaldo Pujol; Exma. Sra. Representante do Sr. Prefeito Municipal, Margarete Moraes, nossa particular amiga; Exmo. Sr. Adalberto Antônio Pernambuco Nogueira, homenageado desta tarde com o Título de Cidadão  Emérito de Porto Alegre, demais autoridades e presenças nesta importante solenidade, nossos irmãos de religião; Ver. Pedro Américo Leal; Vera. Anamaria Negroni; minhas Senhoras e meus Senhores.

Feliz foi o nobre Líder do PT, Ver. Gerson Almeida, ao propor esse título. Feliz por algumas razões, entre as quais destaco a de ordem pessoal que referencia o Pernambuco, hoje Presidente do Conselho Estadual de Umbanda e Cultos Afro-Brasileiros, CEUCAB, anteriormente fundador e Presidente da União de Umbanda, cuja assinatura em centenas e centenas  de casas espalhadas por esse   Rio Grande  e lá se encontra a licença  da União de Umbanda assinada pelo nosso Pernambuco. Esta nossa homenagem tem uma abrangência  dado às lutas do Pernambuco, do Antonino Alves  e principalmente do Moab que vêm há mais de quarenta, cinqüenta anos realizando em prol da nossa religião. É referência  personalizada que o Pernambuco está recebendo não como outorga pessoal, mas abrangente a toda uma geração de lutadores em prol da nossa religião. Aliás, Gérson, tu referistes o termo "estigma"  do conjunto afro-umbandista que era o preconceito. Essa é uma referência  pessoal dado que o Pernambuco veio do Norte e hoje recebe o maior galardão que a Cidade de Porto Alegre pode oferecer:  o  título honorífico de Cidadão de Porto Alegre.

 Ele já é um cidadão de Porto Alegre porque se incorporou às lutas, aqui, como funcionário do Banco do Brasil e como um líder religioso, espraiando por todos os lugares os fluídos de bondade e fraternidade que são os paradigmas  da nossa religião. Hoje, é o ápice do coroamento de uma longa luta. Ele é um gaúcho honorário. Esta é uma referência muito honrosa para o Pernambuco e para toda a nossa grei afro-umbandista.

A segunda referência é no sentido de que esta homenagem  é uma espécie de resgate de tudo isso que a gente vem sofrendo, ao longo do tempo, vem sofrendo, que é a incompreensão. Na Vila Nova há um companheiro, o Cacemiro, que tem uma grande casa também e que contava, recordo-me bem que, na década de 60, ele, indo fazer alguns despachos, vindo ao Centro e atravessando a Praça da Alfândega, foi preso por portar aquelas velas e aqueles outros ingredientes, e recolhido a uma sub-delegacia que havia onde hoje é a Prefeitura. Ele foi recolhido por praticar a religião e ficou preso até que alguém se preocupou em retirá-lo da mesma. Então, a que ponto chegava o preconceito: prender alguém pelo simples fato de que estava exercendo a sua atividade religiosa, hoje assegurada, graças a Deus, na Constituição Cidadã de 1988.

Hoje, o culto está assegurado constitucionalmente, há o livre arbítrio de qualquer culto e a sua consecução absoluta em termos de liberdade de culto. Mas, para chegarmos até aqui foi um longo caminho  e muito sofrimento, como eu referi, numa prisão, por atividade religiosa. Certamente esse é um exemplo, devem existir muitos outros, inclusive de invasão e interdição de casas,  simplesmente pela prática do ritual, porque diziam que ali  estava se chamando o demônio.

 Este tipo de homenagem é uma referência,  porque ajuda o reconhecimento oficial da Cidade, dos parlamentos, das classes estabelecidas oficialmente, nós, os poderes Legislativo, Executivo, enfim, o reconhecimento, o carimbo oficial, de que essas questões estão superadas. Pelo menos está se tentando virar essa página. Ainda existe um resquício de elite. Queria chamar a atenção, permita-me Pernambuco, aproveitando a homenagem, já que aqui existem lideranças muito fortes da nossa religião, expressivas lideranças, de que nós precisamos encetar uma campanha  logo, logo, muito forte, porque existe, no Congresso Nacional, um projeto de lei baixando para 60 decibéis o limite dos ruídos, ou seja, para atingir exatamente o tipo de religião que nós representamos. Então, isso aí é algo que está surgindo lá, a socapa, e que precisa do nosso repúdio, da nossa união e do nosso barulho. Outro dia, eu dizia a alguém que,  se for necessário, nós iremos a Brasília. Nós não vamos regredir por causa de um preconceito.

Perto de onde eu moro, há um bailão e,  aos sábados e domingos, mesmo com calor, tem-se que manter os vidros dos apartamentos  fechados. Eu não consegui, nem com o Gerson nem com ninguém, fechar o bailão. E a nossa religião está para ser fechada por 60 decibéis.

Desculpem, mas aproveito este momento de liderança para fazer um apelo. Nós não estamos nos preocupando. Nós temos jornais; aqui está presente a Hora Grande, a Folha; o Pai Cleon vai continuar o seu programa de rádio. Nós temos que "botar a boca no trombone" e, se for preciso, iremos a Brasília. Não é possível que se baixem, lá de cima, absurdos desse teor.

Pernambuco, eu represento a Bancada do PDT e outras, como a do PTB, que deveria usar a palavra, mas que, por força maior, talvez não chegue a tempo. Falo para situar a imensa satisfação do Poder Legislativo, que é um representante do Cidade, eventualmente, mas é. Até que mude o seu perfil, nós somos representantes, por vontade dos nossos concidadãos, de todo o conjunto da sociedade porto-alegrense.  Nós falamos pela sociedade. Podemos falar, porque estamos aqui colocados pela sociedade e não porque queremos. Aliás, muito nos honra estar aqui.

A sociedade de Porto Alegre, que nós representamos, te reconheceu, na votação do título de Cidadão Emérito, e eu, particularmente, sinto-me muito honrado por conviver com os irmãos. O Ver. Gerson, em muito boa hora, oportunizou este momento.

Leva, Pernambuco, esta outorga. Não é preciso dizer que tu a honrarás, como vens honrando a cidadania gaúcha há muitos anos, incorporando todas as nossas tradições. Queremos que tu e tua família a recebam como o fruto de um trabalho de muitos anos de sacrifícios enormes, vencendo demandas, inclusive algumas das que citei, que, hoje, se sobrepõem, aos próprios preconceitos. De modo que nós te saudamos e desejamos  que leve este título como uma justa homenagem de Porto Alegre ao nosso irmão nortista que hoje é, oficialmente, Cidadão  de Porto Alegre.  Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Quero registrar que, além dos Vereadores que tem incumbência de seus partidos para ocupar a tribuna, vários Vereadores aqui passaram e se encontram presentes, todos eles com o objetivo  de caracterizar solidariedade aos atos que aqui se realizam. Como é o caso do Ver. Hélio Corbellini,  que se encontra nas galerias. Saúdo-o, registrando a sua presença. Também os Vereadores Lauro Hagemann, Elói Guimarães e Juarez Pinheiro,  que estão reunidos na Comissão de Constituição e Justiça, tratando de assunto da Casa, onde também se encontra o Ver. João Dib, que gostaria de estar presente, e na impossibilidade de fazê-lo, solicita que o representante do seu Partido, neste ato, Ver. Pedro Américo Leal, manifeste não só em seu nome, mas de toda a Bancada do PPB, as congratulações ao nosso homenageado.

Com a palavra o Ver. Pedro Américo Leal.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Sr. Presidente, em exercício da Câmara Municipal, Ver. Reginaldo Pujol, que dirige os trabalhos: Sra. Margarete Moraes, Secretaria Municipal de Cultura, que representa o Prefeito Municipal, Sr. Raul Pont; Sr. Adalberto Pernambuco Nogueira, nosso homenageado. Senhoras e Senhores.

Como todos devem saber, eu era um mero espectador, não pretendia usar a tribuna. O ilustre Ver. João Dib, por motivos alheios a sua vontade, porque nunca falta. Durante anos a fio estive aqui e nunca vi o Dib não comparecer. Alguma coisa houve, mas, se houve , foi espiritual. Quem pode dirigir e mensurar as forças e as energias do espírito? Tanto que um carioca saúda um nortista na Câmara Municipal de Porto Alegre.

Quais serão as credenciais exigidas a um homem -  mulher - para que ele pertença ao elenco dos 33 Vereadores? Quais serão as credenciais exigidas para que uma criatura seja destacada, por ano, para pertencer a esse ramalhete de personalidades que vêm a ornar futuramente, o conselho dos cidadãos eméritos de Porto Alegre? O que ele precisa ter? É preciso ser uma figura fulgurante, inteligente, proeminente? Não! As pessoas citadas, escolhidas,  têm que representar alguma coisa que venha a sintetizar os desejos de todo o elenco dos Vereadores, e por isso é que ele é indicado por um dos Vereadores, e deve ter quase que a unanimidade dos votos.  Então, eu, o Ver. Carlos Nedel e o Ver. João Dib, resolvemos que as credenciais vão ser sintetizadas, Pernambuco, numa história breve que vou contar e que calha muito bem.

Dizem que, em certo lugar do Tibete, havia um mosteiro, numa encosta de elevação, e que todos procuravam um dia ser aceitos,  naquele mosteiro, para também ser monges. E o sino batia, a porta abria e aquela figura, que apresentava credenciais de humildade, de idoneidade e de bondade, sussurrava alguma coisa a uma pergunta fatal que o monge, de dentro do mosteiro, fazia: "Quem tu és?" A maior parte dos candidatos voltava de cabeça baixa, porque não respondiam adequadamente a pergunta. Um dia, para surpresa geral de toda aquela região, os sinos bateram e a porta do mosteiro se abriu. Havia alguém respondido a pergunta fatal do monge que interrogava: "Quem tu és?" E sabe o que ele respondeu? O mesmo que você, Pernambuco, responde agora para receber as credenciais: "Eu sou tu!" (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Após o brilhante pronunciamento do Ver. Pedro Américo Leal, quero apenas enfatizar que o Ver. Dib encontra-se na Casa, só que na  Comissão de Constituição e Justiça, diante de uma situação de emergência, que foi convocada extraordinariamente. O Ver. João Dib fez questão que fosse assinalado esse fato, numa justificativa dele e dos Vereadores Elói Guimarães, Juarez Pinheiro e João Motta, da sua involuntária ausência em face de outras atividades, que nos levam, inclusive, a estar presidindo os trabalhos da presente Sessão.

 E como Presidente dos trabalhos, fico obstado de fazer o que era o meu desejo, ocupar a tribuna para saudar o Pernambuco em nome do meu Partido, Partido da Frente Liberal. E essa minha frustração só é amenizada pela circunstância de que vou solicitar à minha querida amiga Anamaria Negroni  que ocupe a tribuna não só em nome do Partido da Social Democracia Brasileira, como também em nosso nome, do Partido da Frente Liberal.

A Vera. Anamaria Negroni está com a palavra, representando o PSDB e o PFL.

 

A SRA. ANAMARIA NEGRONI: (Saúda os componentes da Mesa.) Inicialmente transmito ao homenageado o abraço de meus companheiros de Bancada do Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB -, Vereadores Antonio Hohlfeldt e Cláudio Sebenelo. Tenho a honra de estar falando em nome da Bancada do PFL, representada, nesta Casa,  pelo  nosso Ilustre Presidente dos trabalhos Ver. Reginaldo Pujol.

A homenagem que a Câmara Municipal presta, no dia de hoje, reflete o sentimento de uma parcela considerável da população que representamos nesta Casa. O homenageado Adalberto Antonio Nogueira, o Pernambuco, como carinhosamente é conhecido por toda comunidade porto-alegrense, é membro atuante das religiões e cultos afro-brasileiros, tendo representado o Rio Grande do Sul por várias  vezes nos Conselhos Nacionais de Umbanda, e dos cultos afros, realizados em várias capitais brasileiras. Babalorixá, Deijejá, sacerdote de umbanda do Centro Espírita de Umbanda.

O trabalho de Pernambuco abrange a luta em prol da moralização das religiões. Assim, tem contribuído de forma destacada para Organização Estadual, Federal e Municipal do Conselho Nacional Deliberativo da Umbanda e dos cultos afro-brasileiros. É de se destacar, também, o trabalho cultural desenvolvido pelo ilustre Pernambuco que, além da publicação de um livro de assuntos ligados à religião, colabora, permanentemente, com a imprensa,  elaborando artigos que possibilitam a informação e a formação religiosa de nossa população. Por tudo que já foi dito, mas, principalmente, pelo trabalho que o nobre Pernambuco vem realizando no âmbito das religiões afro-umbandistas, por sua dedicação à vida religiosa de nossa população, nós, Vereadores do PSDB  e  PFL e, em particular esta Vereadora, temos a convicção de que esteve acertada a Câmara Municipal ao prestar esta homenagem. Gostaria de parabenizar, também, ao ilustre  Líder da Bancada do PT, Ver. Gerson Almeida por esta feliz iniciativa.

Deixo aqui os meus sinceros parabéns ao Sr. Pernambuco que, sem dúvida nenhuma, merece esta homenagem. Ele se torna, neste momento, - o homem que nasceu em Belém do Pará -, um Cidadão de Porto Alegre. É com muito orgulho que lhe concedemos este título. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: É chegado o momento de entregarmos o título ao Sr. Adalberto Pernambuco Nogueira.

 

(É outorgado o Título e entregue a Medalha.)

 

O SR. PRESIDENTE: Tenho a honra de passar a palavra ao Cidadão de Porto Alegre, Adalberto Pernambuco Nogueira.

 

O SR. ADALBERTO ANTÔNIO PERNAMBUCO NOGUEIRA: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quando eu era criança - tinha 14/ 15 anos de idade, naquele tempo éramos criança, faz um longo tempo - eu ouvia no interior de Minas Gerais aqueles oradores começarem o seu discurso dizendo: " a emoção embarga a minha voz". Eu confesso que hoje estou sentindo isso e não é mentira. Vou  explicar por que não é mentira.  Eu tinha 14 anos de  idade e caiu nas minhas mãos o livro  "O Tempo e o Vento", escrito pelo fabuloso Érico Veríssimo. Eu li o  livro e  parecia que vivia  o Rio Grande do Sul, que eu não conhecia, que eu não sabia o que era. Conheci o Rio Grande do Sul por aquele livro e sempre manifestei o desejo de conhecer  pessoalmente o Rio Grande do Sul.  Trabalhei no Banco do Brasil, e surgiu uma oportunidade para eu ir para a  cidade de Erexim. Eu vim, larguei o Rio de Janeiro, aquela capital maravilhosa do nosso Coronel  e Ver. Pedro Américo Leal, uma cidade extraordinária. Vim para uma cidade que eu não conhecia, para um povo que  eu só conhecia através de um romance de Érico Veríssimo. Cheguei aqui  e vi ante os meus olhos tudo aquilo que sonhava a respeito do Rio Grande do Sul, o Rio Grande do Sul me deu coisas maravilhosas.

  Não tirando fora o Fluminense,  que foi o primeiro filho, tive cinco filhos gaúchos. Deu-me, também,  o prêmio maior que poderia ter dado a mim, no final de uma  existência, no dobrar do cabo da boa esperança, uma criatura maravilhosa. Dizem que os grandes homens são  feitos pelas grandes mulheres, eu não sou um grande homem,  mas tenho ao meu lado uma grande mulher, também gaúcha Rio-grandina, da Cidade de Rio Grande,  cidade que foi o berço dos cultos africanos e da Umbanda  no Rio Grande do Sul. Então eu devo tudo isso ao Rio Grande do Sul, mas faltava algo para mim, algo que dissesse o que realmente sentia, ser considerado oficialmente um gaúcho, um paraense do extremo do País ser considerado cidadão, não é um título de porto-alegrense, este  título representa para mim o Rio Grande do Sul,  esse Estado que vim amar  ainda mais.

O que  procurei fazer, profanamente, pelo Rio Grande do Sul foi muito pouco, mas como tenho a ventura de dizer, e é pena que a Vera. Maria do Rosário não esteja aqui, porque ela é Veranense e sabe que, quando fui gerente e instalador da agência  de Veranópolis, pela  primeira vez, consegui um financiamento para produção de maçãs para o Rio Grande do Sul.

Lá existia uma fábrica de armas, e ainda continua existindo, e eu segurei aquela fábrica para não ir à falência com sacrifício até do meu nome junto ao Banco do Brasil. Existia uma fábrica de jóias, hoje, famosa dentro e fora do Rio Grande do Sul e que ainda tinha a mentalidade de não pedir dinheiro emprestado para os bancos. Nós conseguimos fazer com que essa fábrica parasse com essa mentalidade. Foi pouco, mas foi alguma coisa. Hoje, o Banco do Brasil financia milhares de toneladas de maçãs aqui no Rio Grande do Sul e nós tivemos o privilégio de começar  e podemos dizer isso com orgulho.

A colega Lizete não foi mencionada. Nós começamos com ela aqui na agência  Centro de Porto Alegre e tivemos a oportunidade de juntos ver tudo isso. Mas, isso foi a vida privada. E a vida  profana, religiosa? Como fomos bater  no culto africano? Talvez pela dor, talvez pelo sofrimento,  talvez por ver aqueles irmãos serem perseguidos, humilhados e sofrerem na carne pelo fato de serem Africanistas e Umbandistas. Alguns se escondiam, outros  enfrentavam a situação de peito aberto. O Cel. Pedro Américo Leal foi Chefe de Polícia aqui, em Porto Alegre. Ele lembra de que as nossas casas de religião tinham que ir à Delegacia de Costumes tirar uma licença  para tocar. A Delegacia de Costumes - não que tenha preconceito contra a profissão, pois Jesus disse "são meus irmãos e os que sofrem tenho que curar e medicar" - era o local para onde iam as prostitutas e as nossas dirigentes de casas espirituais entravam na Delegacia de Costumes e sofriam as maiores humilhações daquelas pessoas, irmãs nossas, mas que estavam bêbadas e que estavam desmoralizando, criticando e ofendendo aqueles que ali penetravam. Nesse tempo havíamos assumido a União de Umbanda do Estado do Rio Grande do Sul. Lutamos, fomos até o então Chefe de Polícia, nosso grande irmão e grande amigo Leônidas Freire, e o Leônidas tirou da Delegacia de Costumes e transferiu a nossa licença para a Delegacia de Registros Policiais, muito mais serena, muito mais suave e aos poucos ele foi permitindo que a nossa religião não precisasse mais de licença, a não ser aquelas fornecidas por seus órgãos federativos.

Estão aqui o Verardi e o Herculano que sabem da nossa luta. Mas luta muito maior iríamos enfrentar e estamos enfrentando, e enquanto tivermos forças iremos enfrentar. Naquele tempo não existia a Lei Afonso Arinos e naquele tempo se dizia que a Umbanda era uma religião de negros analfabetos. Dizia-se isso abertamente e resolvemos enfrentar a situação junto com outros elementos. Não fomos sozinhos, mas junto com outros, para mostrar que a nossa religião não é uma religião de analfabetos, mas que tem um fundamento belíssimo, que mergulha suas raízes num passado remotíssimo e que traz dentro de si uma sabedoria  imensa. É pena que o Cleon não tenha trazido hoje a Olga de Araketo, que é uma das três dirigentes espirituais de Candomblé que encarnam em si a figura de uma rainha africana. A primeira eu a conheci: Aninha do Xangô, e eu tinha 10 anos de idade quando a conheci,  a segunda, eu a conheci com dezesseis anos de idade, chamava-se Senhora da Oxum;  a terceira, foi Olga de Araketo, esteios de um culto africano cuja sabedoria vem de milênios e milênios, até chegar até nós.

Nós precisávamos deixar patente que a nossa religião tinha um fundamento, e que esse fundamento é belo, é puro, é maravilhoso, e para isso precisávamos de cultura. Era isso que nos faltava. E, aos poucos, a religião foi recebendo aquele fluxo de cultura. Nós tivemos um Pierre Vergé na Bahia, um historiador maravilhoso que trouxe o culto africano, elevou o Candomblé. Pena que se ateve apenas ao culto africano da Bahia e, dentro do culto africano da Bahia, apenas ao Nagô. Esqueceu, tratou só do Engenho Velho e das duas casas que saíram do Engenho Velho e se esqueceu do Araketo. Foi lamentável isso. Só tratou do Iorubá e esqueceu do Gegê, esqueceu o Ijechá, esqueceu outros.

Mas nós, aqui no Rio Grande do Sul, temos e está  presente, o Professor Ari Pedro Boro que vem estudando a nossa religião, transmitindo aos seus alunos da UFRGS a sede pelo conhecimento de alguma coisa que é bela, que é profunda. É pena que nós não possamos dissertar, da maneira como nós gostaríamos, sobre a beleza do que é a nossa religião. Muitos dizem  há!  é uma religião de pessoas que matam animais, que fazem isso, que fazem aquilo. Mal sabem eles  a magia que existe por trás da magia de sangue, quando bem aplicada.

É verdade que hoje vivemos uma desorganização, onde a magia de sangue se transformou em orgia de sangue, mas isso vai ser corrigido, e a nossa religião reviverá. Eu tenho certeza, e é a única coisa que eu peço, é que no final de minha  jornada tenha alguém que possa pegar das minhas mãos essa chama que eu conduzo com tanto amor, com tanto carinho, com tanta dedicação, onde eu perco, às vezes, um pouquinho mais de minha saúde, na tentativa de defender, e que continue essa caminhada. Esse título não é meu. Esse título é do meu Estado natal, do Pará, um Pará que está representado, aqui no Rio Grande do Sul, por uma colônia muito maior do que muitos de vocês sabem; e é da nossa religião: minha , do Cleon, do Verardi, do Jader, que é, também, Cidadão de Porto Alegre, e de todos aqueles que, como nós, enfrentam uma luta para colocar, no pedestal, uma religião tão sacrificada, tão perseguida e tão humilhada. O meu muito obrigado à Câmara de Vereadores. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com esse belíssimo pronunciamento do Cidadão de Porto Alegre, Adalberto Pernambuco Nogueira, nós nos  encaminhamos para o término desta Sessão Solene. Antes, porém, eu me permito um breve registro. Em verdade, alguns fatos têm-se sucedido nesta Casa, que não são meramente ocasionais. A distinção dada ao grande Umbandista Moab Caldas há poucos dias, ao se consagrar um projeto do Ver. Nereu D’Ávila e outras homenagens que a Casa tem feito a expoentes da umbanda, confirmadas, agora, com a Cidadania que o nosso querido Pernambuco acaba de receber, são demonstrações objetivas, claras, precisas de um conceituamento pragmático que as lideranças políticas da Cidade, reunidas nesta Casa plural, onde todas as correntes de pensamento têm assento, querem escrever,  de forma clara, na Cidade de Porto Alegre, um hino à liberdade de religião, um hino de liberdade de culto e um hino de afirmação a respeito desses conceitos que não podem mais ser tiranicamente exercidos como uma mera atividade policial, porque a fé não é um problema de polícia, é um problema de consciência religiosa de cada um.

Então, eu quero que todos os senhores, amigos do Pernambuco, todos os religiosos que aqui comparecem na tarde hoje saibam que na Casa do Povo de Porto Alegre a liberdade de religião, a liberdade de culto é um compromisso que nós afirmamos e reafirmamos de todos os meios. E sintam, nessa decisão de consagrar a iniciativa do Ver. Gerson Almeida, uma reafirmação desse compromisso e sobretudo um registro legal, público que Porto Alegre faz por seus representantes perante aqueles que, no passado, por  acreditarem na sua fé, na sua crença, por tantas vezes receberam demonstração de preconceito por parte da sociedade porto-alegrense e da sociedade gaúcha.

Que os novos tempos que aqui se instauram possam persistir por todo o sempre e com isso consagrar esse estágio de civilização que só alcançam aqueles povos que são capazes de respeitar a liberdade individual de cada um, de amar o seu Deus da sua forma, da sua maneira, com a sua fé. A todos a minha homenagem.

E para que ela se consagre da forma mais gauchesca, mais Riograndense, mais gaúcha, nós que hoje vimos, como bem assinalou o Ver. Pedro Américo Leal, um paraense que tem o nome de Pernambuco se transformar num cidadão de Porto Alegre e ser saudado por um carioca da gema, que o Rio Grande há mais tempo já o assimilou, para que tudo isso ocorra de acordo com a melhor tradição do Rio Grande, num culto à liberdade, à igualdade, à fraternidade, convido a todos para que, de pé, ouçamos o Hino do Rio Grande, com o que encerraremos a presente Sessão. Muito obrigado a todos.

 

(É executado o Hino Rio-grandense.)

 

(Encerra-se a Sessão às 16h36min.)

 

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